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PÁGLIA, FREUD E O FEMINISMO

PÁGLIA, FREUD E O FEMINISMO

PÁGLIA, FREUD E O FEMINISMO

 

A relação entre sexos, ao que tudo indica, nunca foi harmoniosa como pretendiam o românticos, pelo contrário, pode-se dizer que foi sempre conflitante, com ressentimentos mútuos. Mesmo na democracia grega as mulhers não tinham direitos políticos na pólis, restringindo-se aos afazeres domésticos. Engels, em ¨A origem da família e da propriedade privada¨, escreveu que a primeira luta de classes se deu entre sexos. Não interessa aqui analisar profundamente os motivos destas discriminações e discrepâncias.

No entanto, nunca podemos esquecer que as sociedades antigas eram guerreiras, viviam em disputas, para dominar ou não serem dominadas. Nas sociedades mais primitivas o ambiente hostil  da natureza, a necessidade de perseguir a presa e caçar, a ameaça de animais selvagens contribuiram para a necessidade de organizar a sociedade com base nessa  diferença entre sexos na ¨supremacia¨ física. Nesse ambiente hostil a força, a agressividade e até mesmo a brutalidade eram fundamentais. Para a infelicidade, ou não, do sexo feminino o homem estava mais apto para desempenhar estes papéis.

Em regra, os vencidos eram escravizados, principalmente os homens, ou mortos. A história nos relata estas épocas através das conquistas de Dario, da guerra de Tróia, das façanhas militares de Alexandre, do estado guerreiro de Esparta, das lutas na conquista da Terra Santa, da diáspora Judaica, do império Romano e do Otomano, das atrocidades de Átila, da ferocidade Gêngis Khan e mais recentemente do gênio militar de Napoleão, para citar alguns poucos exemplos. A brutalidade era tamanha que as mulheres quase sempre eram estupradas pelos vencedores. Gengis Khan afirmava que dentre os despojos da guerra estava a posse das mulheres dos vencidos. Não existia direitos, apenas conquistas e sobrevivência.

Para não deixar dúvidas quanto a brutalidade ¨desse período antigo¨ cito algumas frases de Gengis Khan:

¨Eu sou o flagelo de Deus. E se vocês não fossem pecadores, Deus não teria enviado um castigo como eu¨;

¨Se queres a paz então prepara-se para a guerra¨;

"O homem que procura a paz cava a própria sepultura¨;

¨O maior prêmio do homem é matar seus inimigos, ver suas cidades reduzidas a cinzas, andar em seus cavalos e possuir suas mulheres e filhas¨.

As grandes inustiças sociais não foram e não se deram em relação ao sexo feminino, mas com os desfavorecidos. As vítimas do nazismo não foram as mulheres, mas os judeus, independentemente do sexo,  e os políticos de posição, socialistas, comunistas, democratas. Isto, em nada significa que os direitos sociais da mulher não devam ser reconhecidos.

Ao que tudo indica, em muitas sociedades elas eram participantes ativas, direta ou indiretamente da política,  do poder, gozavam de prestígio e previlégios e se davam ao luxo de terem bastante liberdade. Até mesmo o confinamento ao lar das mulheres gregas é controvertido (Creveld Van Martin, em Sexo privilegiado).

Catarina, A Grande, ascendeu ao trono com o assassinato de seu marido o Grão-Duque Pedro III, em conluio com seu amante e desfrutou dos prazeres que o poder lhe propiciou, em todos os aspectos. Da mesma forma, pode-se dizer da influência e poder de Catarina de Médicis. Consta que a ex-cortesã Teodora insuflou seu marido Justiniano para sufocar uma rebelião e assassinar mais de 20 mil pessoas, na chamada Revolta de Nika.

Em Roma, embora não tivessem participação política oficial, eram cúmplices do poder, conspiravam e influenciavam as decisões políticas.  Agripina, a jovem, mãe de Nero e irmã de Calígula, mandou assassinar o marido Cláudio, para que seu filho assumisse o poder, com o objetivo de manobrá-lo. Infelizmente, para ela, o filho era um louco e depravado.

¨Ninguém duvida que tenha morrido envenenado. O ponto sobre o qual há dúvidas, porém, é o que se refere ao lugar e à pessoa que lhe ministrou a droga mortífera. Narram alguns que isso aconteceu na cidadela, durante um festim com os pontífices, e que o autor foi o eunuco Haloto, seu pregustador. Outros acreditam que o caso se registrou durante uma ceia doméstica, e que a própria Agripina foi quem ministrou o veneno num prato de cogumelos, de que muito gostava¨ (Suetônio, A vida dos doze Césares, apresentação Carlos Heitor Cony, Ediouro, 5 ed, 2003, p.335).

E o que dizer da morte de São João Batista que foi decapitado por ordem de Herodes Antipas, a pedido de Salomé, que abusou  de sua sensualidade para induzir seu padastro  a executá-lo. Ou as ¨preferidas¨ como Diana de Poitiers que só caiu em desgraça com a morte de Henrique II, por vingança de Catarina de Medici. 

Brenda Lewis descreve a inlfuência delas na igreja, nos primeiros anos de século X, que  ficou conhecido como o da ¨pornografia papal¨. ¨Esses pequenos roubos nem se comparam à corrupção, luxúria e indecência do período que ficou conhecido por ¨pornografia papal¨ou ¨domínio das meretrizes¨ (p. 20). ¨O bispo Liutprando descreveu Teodora e Marózia como ¨duas libertinosas mulheres imperiais que governavam o papado do século X¨ (Lewis, Brenda Ralph, A história secreta dos PAPAS, Ed. Europa, 4. ed, p. 23).

Sem querer me alongar nesses pormenores, nunca será demais lembrar que também existiram as que, durante o Regime de Vicky, se tornaram amantes dos nazistas ocupacionistas, ao que tudo indica, não por ideologia. Com a queda do regime se submeteram a tribunais de exceção e tiveram as cabeças raspadas. Estima-se que 71.507 foram condenadas (A humilhação das colaboracionistas, em www2.uol.com.br). 

¨Na reconstrução de uma República francesa livre, importantes liderenças, políticas e militares do regime de Vicky (durante a ocupação nazista) foram julgados e executados como traidores e colaboracionistas.  As mulheres que se envolveram com os nazistas, sendo deles amantes, tiveram os cabelos raspados em praça pública, para que fosse exposta sua desonra¨ (França de Vicky, em www.virtualiaomanifesta.blogspot.com). Ao mesmo tempo em que Jeam Moulin, considerado um mártir, pagava com a vida por ser um alto membro da resistência francesa, durante a segunda guerra mundial.

¨A frequência com que mulheres eram acusadas - não raro por outras mulheres - de ter relações sexuais com alemães é reveladora. Havia um fundo de verdade em muitas acusações: a oferta de favores sexuais em troca de comida, roupas ou algum tipo de auxílio pessoal era um caminho, muitas vezes o único, disponível a mulheres e famílias em situações desesperadoras. Mas, a popularidade da imputação e o prazer de vingança atinente à punição constituem um lembrete de que, tanto para homens quanto para mulheres, a experiência era encarada, acima de tudo, uma humilhação. Jean Paul Sartre, mais tarde, descreveria ¨colaboracionismo¨em termos nitidamente sexuais, como ¨submissão¨ à força do invasor, e em mais de um romance francês dos anos 40 colaboracionistas eram retratados ora como mulheres, ora como homens fracos (¨efeminados¨), seduzidos pelo charme teutônico dos invasores. Descarregar sentimentos de vingança em mulheres corrompidas era um meio de superar a memória desconcertante de fraqueza pessoal e coletiva¨ ( Judt, Tony, Pós-guerra, Ed. Objetiva, 2007, p. 57).

¨Eram homens e mulheres que trabalhavam para as forças de ocupação, que com elas mantinham relações sexuais, homens e mulheres que selavam a própria sorte com a sorte dos nazistas ou fascistas e que, com oportunismo, buscavam vantagens políticas ou econômicas valendo-se do contexto da guerra¨ (p.56). 

Não devemos dar vivas desmedidas ao movimento feminista, admitindo que todas as suas idéias, ações e conquistas foram e merecem ser admiradas, sem apontar, ao mesmo tempo, os seus fracassos ideológicos, as suas distorções e os seus exageros.

Devemos ter em mente que foi-se a época em que perder as estribeiras, para romper com os tabus, preconceitos e injustiças, até poderiam ser justificadas. Mas, não nos esqueçamos que todos estes movimentos políticos e estritamente ideológicos, relativamente de ¨massa¨, trazem em seu cerne os exageros.

Na revolução francesa muitos castelos, palácios e obras de artes foram destruídos por terem pertencido à nobreza, mas os revolucionários esqueceram que estes monumentos poderiam ser, como de fato ocorreu com as obras de recuperação, patrimônio da humanidade. 

As experiências passadas foram incorporadas e absorvidas pelo intelecto e serviram de base para os comportamentos futuros de ambos os sexos. Foram importantes por que exigidos em situações que requeriam soluções rápidas, como mecanismos de defesa, contra as adversidades que se deparavam.

Decisões muitas das quais não passavam pelo crivo da racionalidade, mas por condicionamentos que requeriam a necessidade de sobrevivência, com base na intuição, agressividade, percepção e vivências passadas.     

Não saberia responder se a escravidão foi ou seria uma etapa necessária para o desenvolvimento das sociedades futuras. Os grandes perdedores eram os escravos e os desafortunados, não as mulheres. E sempre existiu as que se beneficiavam do status quo, que mandavam direta ou indiretamente e também realizavam suas atrocidades, conspirando.  

Ainda assim, não existia um desenvolvimento tecnológico substancial que permitisse excluir a força no desempenho de determinadas tarefas. A maternidade cumpria uma importante função social. Por isso e por outros fatores a divisão de trabalho era baseada nos sexos. Estes fatores, sem dúvidas, moldaram a cultura, a forma de pensar, de agir, a ideologia e consequentemente os supostos atributos e características ¨naturais¨ de cada sexo. Nesse contexto seria inexato atribuir ao sexo masculino um desejo de domínio pré-concebido. O domínio era consequência das condições materiais de vida, mas, ¨infelizmente¨, não quero dizer que foi por acaso, os valores sociais arraigadas se perpetuaram e não mais se justificavam na sociedade moderna.

Com o advento do capitalismo, o avanço tecnológico e as grandes transformações sociais vivenciadas no século passado, principalmente no pós-guerra, abriram-se possibilidades para que a antiga ordem social e especificamente o longo período de domínio masculino fossem efetivamente contestados. As ciências sociais contribuiram e foram de grande importância nesse processo. E Freud também, pois a mulher passou a ter direito ao desejo. Surge uma nova época de reinvidicação de direitos, antes relegados pela sociedade patriarcal.

Nesse contexto, o movimento feminista, de emancipação das mulheres, obteve conquistas justas, importantes e irreversíveis. Agora, passada a euforia, cabe a reflexão inversa. Para onde nos levou este movimento e onde pretende chegar? Todas as conquistas foram justas? Querem mais que a igualdade antes reinvidicada? Onde fracassou? Parece ser ironia do destino que os homens necessitem dos pensamentoas e esclarecimentos de uma mulher que participou ativamente deste movimento. E que, agora, em sentido contrário, poderá colaborar para libertar os homens do jugo atual feminino.

Me sirvo das idéias da professora americana de artes Camille Paglia publicadas em entrevista na revista Veja, edição 2363, n. 10, e de seu ensaio ¨O feminismo não é honesto com as mulheres¨(em www. feminismo.org.br) para expor meu ponto de vista. Ao longo deste texto cito algumas de suas frases que não precisam ser contextualizadas.

Freud levantou a ira de seus contemporâneos quando elegeu o sexo como um fator primordial do comportamento humano. Também trouxe reboliço e muita controvérsia quando ressaltou a importância do órgão sexual masculino no desenvolvimento sexual da menina, no comportamento e ideário feminino.

A sua teoria sobre o desenvolvimento sexual da menina foi considerada falocêntrica e ele taxado de misógino pelas feministas. Os debates parecem ter sido intensos. Posteriormente, no auge das reinvidicações, procuravam rejeitar suas idéias tentando demonstrar que estavam desatualizadas por ter vindo ele de uma sociedade extremamente conservadora, do final do século XIX. Infelizmente, a simples menção deste fato não parece ser suficiente para invalidar a sua teoria. 

Assunto polêmico, a  teoria da ¨inveja¨ do pênis trouxe e ainda traz discussões acaloradas e exarcebadas, principalmente por que seus argumentos não podem ser comprovados cientificamente. Ficou um certo vazio e todos não entendiam bem o que o autor queria dizer, mesmo por que o termo é bastante vago e tem conotação pejorativa. Como surge, qual a razão e dimensão desta inveja e como ela se manifestava? Seriam assuntos que deveriam ser mais bem explorados. Ainda hoje se discute a dimensão contextual desta palavra.

Tudo indicava que este comportamento feminino estaria fundamentado no papel simbólico que o órgão sexual masculino despertava, como símbolo de poder, existindo um sentimento a ele associado de não poder possuí-lo tanto no plano simbólico quanto físico. Introduziu-se a noção do falo, na tentativa de dar mais clareza e apaziguar os ânimos, mas as dúvidas e as discordâncias persistiram. Esta palavra raramente foi utilizada pelo autor.

Os movimentos feministas entre e pós-guerra, que tencionavam modificar os valores sociais permitiram aprofundar ainda mais o assunto no intuito de esclarecer e entender esta ¨teoria¨. Logo surgiram explicações que procuravam dar uma explicação convincente para o pensamento do autor, baseadas no domínio masculino .

A explicação que parecia mais plausível a época era de que o papel desempenhado pelo sexo masculino na sociedade paternalista e no ambiente familiar seria o fator determinante que poderia despertar este comportamento ¨invejoso¨. Assim o poder simbólico desempenhado pelo órgão sexual masculino estaria fundamentado no papel social do homem. Muda-se o enfoque, que passa a ser preponderantemente social.

Na sociedade igualitária que permanecia no ideário feminino esta concepção freudiana era inconcebíbel e preconceituosa, devendo ser banida do contexto psicanalítico. Mas, por outro lado, da mesma forma, nada comprovava que este simbolismo seria exclusivamente decorrente do papel que o sexo masculino desempenhava na sociedade e no seio familiar. Interessante é que nas  ciências não exatas nada tem uma causa exclusiva.

Neste novo ambiente pós-guerra, o sexo feminino era igual ao masculino em todos os aspectos e ponto final. Tudo era unisex. A igualdade não se restrigiam aos direitos políticos e garantias socio-econômicas. Qualquer tentativa de apontar diferenças entre sexos era taxada de machista. As mulheres exigiam participar e opinar nas conversas que num passado faziam parte do universo masculino, sob o estigma do machismo. Mas, o interessante é que os homens não se interessavam, como não se interessam pelos assuntos ¨estritamente¨ femininos. Esqueceram que o feminismo exacerbado é tão absurdo quanto o machismo tradicional. Os hormônios nada significavam para os diferentes comportamentos masculino e feminino. Tudo se resumia e era concebido   sob o prisma da submissão que a sociedade, na figura masculina,  impôs à mulher. Se a mulher entrava na menopausa o homem tinha a andropausa, que era similar.

Simone de Beaurvoir foi alçada como o símbolo da luta pela liberdade da mulher na sociedade moderna e o seu ¨não se nasce mulher, torna-se mulher¨ foi muitas vezes interpretado ao pé da letra. Seu pensamento também naõ deixa de apresentar este viés social.Todas as diferenças foram impostas pela cultura em desfavor do sexo feminino. E a culpa de todos os infortúnios femininos era do homem. Questionaram a teoria freudiana com base nos valores da sociedade de sua época e até mesmo de sua vida privada, mas a vida particular da autora da frase não interessava. Quanta incoerência.

É evidente a tentação de adentrarmos na vida particular e psicológica de uma pessoa para desmerecer, desqualificar e, até mesmo, contextualizar suas hipótses, teorias ou opiniões. Embora reconheça que este método possui sua eficácia, por enquanto, prefiro me dedicar aos aspectos não pessoais.   

Entretanto, todo este feminismo não impediu que a ilustre feminista manifestasse seus impulsos femininos mais profundos, ou, como queiram, revelasse um dos lados ¨obscuros¨ da feminilidade: ¨O ressentimento é a causa mais comum da frigidez feminina; na cama, a mulher pune o homem por todas as injúrias que sente ter sofrido, ao oferecer-lhe uma insultante  frieza. Há com frequência um agressivo complexo de inferioridade em suas atitudes [...] Assim ela se vinga tanto dele quanto de si mesma por ele tê-la humilhado por negligência, por tê-la feita ficar com ciúmes, por ele ter se demorado em declarar suas intenções, por ele só fazer dela uma amante quando ela queria o casamento. O agravo pode se acender subitamente e disparar essa reação mesmo uma relação que começou feliz [...] A frigidez {...} parece ser uma punição que a mulher impõe ranto a si mesma quanto a seu parceiro; ferida em sua vaidade, ela sente ressentimento contra ele e contra si mesma, e ele nega a si mesma o prazer¨ (Texto retirado do livro ¨O segundo sexo¨, citado em Crevelan, Martin Van, Sexo privilegiado, Ed. Ediouro, ed. 2004, p. 426).

¨A partir dos anos 1960 o movimento feminista tentou apagar qualquer menção às diferenças de comportamento causadas pelos hormônios. Mas homens e mulheres sentem e expressam emoções de maneiras diversas, por que os hormônios atingem o cérebro dos dois sexos em níveis diferentes¨ (www.feminismo.org.br).

Em apoio ao pensamento da autora Camille Páglia, cito passagens do texto DIFERENÇAS DE GÉNERO, que pode ser encontrado em www.drauziovarella.com.br:

José Salomão Schwartzman-¨O cérebro do bebê do sexo masculino é banhado por quantidade maior de testosterona, o hormônio masclino, do que o cérebro da menina. Parece-pelo menos é essa a teoria que se defende atualmente-que, quandobanhado por muita testosterona, o cérebro é constituído de forma diferente> Existem evidências de que manipular esse hormônio em animais de laboratório ou mesmo em pessoas provoca a mudança de determinados comportamentos que sãoo sexo dependentes.

Tais diferenças de comportamento, boa parte dos indivíduos atribui a fenômemos culturais, mas há sinais claros de que outros fatores também pesam. É óbvio que os aspectos culturais e sociais existem, mas não se pode negar o papel biológico presente nesse processo¨(grifo meu).

Outrossim, existem estudos que mostram como a genética influencia o comportamento diferente dos sexos. O mais interessante é que, apesar desta controvérsia, as companhias, objetivando uma melhor produtividade e praticidade empregam homens e mulheres com base na observação prática das diferentes aptidões, para determinadas tarefas. Será que é por puro machismo?   

Hoje, os estudos mais avançados demonstram que o comportamento humano não se restringe ao racional e irracional, no sentido psicanalítico do termo. Cito Leonard Mlodinov, em ¨Subliminar¨, Ed. Zahar, ed. 2012:

¨Estudos mostram que as pessoas tomam decisões morais diversas depois de assistir um filme alegre, e que as mulheres, quando estão ovulando, usam roupas mais provocantes, tornam-se mais competitivas sexualmente e ampliam sua preferência por homens sexualmente competitivos¨(p. 210/1).

¨O comportamento social humano é obviamente mais avançado e cheio de nuances que o do arganaz e dos carneiros. Ao contrário deles, nós temos ToM e somos muito mais capazes de superar impulsos inconscientes tomando decisões conscientes. Mas, nos seres humanos, a oxitocina e a vasopressina também regulam os vínculos com os semelhantes. Nas mães humanas, assim como nas ovelhas, a oxitocina é liberada durante o parto e o nascimento. Também é liberada na mulher quando os seus mamilos ou o colo do útero são estimulados durante a relação sexual; e nos homens e nas mulheres quando eles chegam no clímax sexual. Tanto nos homens quanto nas mulheres, a oxitocina e a vasopressina liberadas no cérebro depois do sexo produzem amor e atração¨ (p.114).

¨Em outro estudo, no qual os participantes deviam investir dinheiro, os investidores que inalavam oxitocina tendiam a mostrar muito mais confiança em seus parceiros, que eram levados a aplicar mais dinheiro com eles¨(p.114).

¨Os cientistas descobriram que homens que têm duas cópias de uma determinada forma desse gene têm menos receptores de vasopressina, o que os torna semelhantes aos arganazes promíscuos¨(p.115).

Não se trata aqui de questões sobre superioridade ou inferioridade de um gênero em relação a outro, mas diferenças de comportamento, aptidões, emoções, que em determinados momentos são mais exigidos que em outros. Mesmo por que, filosoficamente falando, a superioridade em algum aspecto implica necessariamente em inferioridade, em outro aspecto a ela correlato. É inegável que as meninas na tenra idade manejam melhor a linguagem, são mais vivas e amadurecem mais rápido que os meninos (também citado pelo autor).

Mas com o desenrolar da vida foi ficando evidente que o assunto não seria tão simples e que as supostas igualdades não encontravam respaldo na diversidade de sentimentos, comportamentos e modo de pensar. Indubitalvelmente, os hormônios também falam e neste caso falaram mais alto.

Cito novamente a professora: ¨É como as mulheres tivessem respostas para tudo. E, se não são felizes , a culpa é dos homens¨ (revista Veja). Melhor teria dito que a culpa continua a ser dos homens.

Infelizmente esta percepção foi tardia. O movimento ao que parece já tinha tomado conta do comportamento social e o sexo masculino acusou o golpe, incorporando toda esta ideologia anti-machista,  no sentido feminista. Assimilou um sentimento de culpa com relação ao sexo feminino, por todo um longo período de injustiças contra as mulheres, do ponto de vista dos valores hodiernos. Os homens sentiam medo de serem taxados de machistas ao defenderem quaisquer diferenças sexuais. Em suma, sentiram o golpe, foram  encurralados e sentiam vergonha de serem homens. É algo semelhante  ao que atualmente ocorre com o movimento negro. Os não negros sentem vergonha e um sentimento de culpa em relação aos negros, que no passado foram escravizados pelos seus longínquos ascendentes. Assim  todas as questões reinvidicadas são motivo para concessões. 

O comportamento do sexo masculino passou ser moldado pelos parâmetros comportamentais do sexo feminino. Os comportamentos aceitáveis são determinados pelos valores admitidos e valorizados pelo agora criado mundo feminino, que, por incrível que pareça, existe e é diferente do masculino. Os meninos têm que ser dóceis, a agressividade deve ser contida nos moldes femininos  e mesmo não  admitida, a sensibilidadee a compaixão importam mais que a racionalidade. ¨A compaixão e a sensibilidade femininas são virtudes positivas ... ¨ (contextualizar; revista Veja). Em algumas escolas já existem discordâncias sobre a orientação educacional baseada em atributos do sexo feminino. Orientação que não interessa os garotos.

O enfoque mudou. Se no início a mulher afirmava ser igual ao homem e não admitia ser diferente ¨Hoje, elas querem que o homem seja igual a mulher¨. ¨Famílias de classe média são basicamente ambientes femininos. Tudo é bem gentil, e os homens têm de mudar seu comportamento para se encaixar nelas¨ (a autora, revista Veja).

Documentários e programas de televisão que citavam e analizavam as diferenças e diversidadees entre sexos foram banidos para apaziguar os ânimos e passaram a ser considerados politicamente incorretos. Qualquer idéia ou mesmo assunto, mesmo que científico, que vá de encontro aos interesses igualitários femininos são motivos de repúdio, represália e rejeição. 

As mulheres, que  no passado competiam entre elas por motivos e situações que aqui não nos interessa, hoje têm como alvo a concorrência aberta e direta com os homens. Opinam sobre tudo, têm razão em tudo e necessitam sobrepujar o sexo masculino em todos os aspectos. Sufocam os homens e os filhos, principalmente se são meninos. Discordar em tudo é sinônimo de personalidade e mensagem de não submissão, de afirmação para a mulher moderna. Se na presença de outros melhor ainda. Reinvidicam leis em benefícios próprios sem se importarem com a igualdade, outrora tão requisitada.

¨As mulheres sentem que têm de ser pessoas bem-sucedidas, tudo na vida delas tem de estar relacionado com o poder feminino, com ¨encarar obstáculos¨ (grifo meu, revista Veja)). Bem disse a autora: poder feminino. Fica claro que as disputas não terminaram. A igualdade outrora sonhada está se transformando novamente em desigualdade.

Se a sociedade patriarcal hirárquica perdeu o seu espaço na sociedade atual, em virtude das conquistas sociais femininas, um  novo componente entrou em cena na relação entre os sexos. E este componente é a concorrência em relação ao sexo masculino, questão de vida ou morte.

Com a concorrência exacerbada e a ânsia de poder, elas tornaram-se castradoras em sentido figurado e simbólico. Castradoras simbólicas, mas castradoras. Como o objetivo inconsciente é destituir ¨o poder simbólico¨ do homem, ainda representado pelo membro, a única solução seria dominá-lo, ou seja, castrá-lo, ainda que simbolicamente. Fica até a impressão que as mulheres não concorrem com o homem, especificamente falando, mas com o que ele tem.

Para estas mulheres feministas, dominadoras e castradoras não existe meio termo e nem direito a outras opções, pois ¨Desde o fim da década de 1960 há uma depreciação de quem quer ser mãe e mulher¨(www.feminismo.org.com). Ser mulher é basicamente dominar e concorrer com os homens. Passaram a ser demasiadamente severas  com as outras que não possuem os mesmos objetivos feministas.

Chegado este momento e não querendo entrar na polêmica discussão sobre a importância do órgão sexual masculino, que fundamenta a teoria freudiana, não sou psicólogo, muito menos psicanalista, me permito algumas divagações, levando em consideração os seus ensinamentos. Chamá-lo de misógino não resolve o problema.

A teoria do sentimento de inferioridade, consubstanciada na inveja do pênis, encontra o seu correspondente no sentimento de superioridade do homem (Freud, Sobre a Sexualidade, Imafo, vol II, ed 1969, em ¨Algumas  Consequências Psíquicas da Distinção Anatômica Entre os Sexos¨ , p 314/5) . No autor fala em ¨horror e desprezo¨ pelo sexo feminino (contextualizar). Ambos sentimentos, inferioridade e superioridade de um sexo em relação ao outro, são verso e reverso da mesma moeda e, se não superados, não contribuem para a harmonia das relações. Por serem assim, não existe qualquer superioridade de um sentimento em relação ao outro, como se presumia. É tal como a relação sado-masoquista.

Aparentemente, pelo menos me parece, o autor se utilizou de um termo infeliz para designar o comportamento do sexo feminino, ¨inveja¨, porque ele na cultura ocidental carrega uma carga pejorativa, revela, religiosamente, um sentimento odioso. Existe um sentimento imediato de objeção e de repugnância pelo que ele representa. Daí, talvez, a sua rejeição neste contexto psicanalítico. Afinal de contas, no contexto bíblico, por inveja, Caim matou Abel e o termo   consta como um dos sete pecados capitais.

Por isso, deveria ser banido da linguagem psicanalítica, por que não esclarece nada e só acirra os ânimos. Nem todo desejo é ou se transforma em inveja. Por outro lado, existem diversos níveis e tonalidades de desejo.

No entanto, o sentimento oposto, de superioridade, está muito longe de ser um sentimento nobre, pelo qual se possa ter orgulho. Principalmente nos dias atuais, em que se cultiva e se valoriza o respeito ao próximo, mútuo, a solidariedade e a dignidade da pessoa humana, previstos no texto constitucional.

Hoje, na sociedade atual, a valorização dos termos e conceitos mudaram e se inverteram e não nos apercebemos disto. Nessse sentido, o sentimento de superioridade é mais rejeitado e inaceitável do  que o seu oposto e, até mesmo, odioso porque pavimenta o caminho para a opressão, a soberba, a prepotência e o desrespeito. E, por incrível que pareça, não existe qualquer e nenhuma superioridade em se sentir superior. Este sentimento, necessariamente, não se transforma  em uma superioridade que poderia ser sadia, baseada em qualidades, virtudes, e equilíbrio,  que não depende de sexo.

Se os esteriótipos da sociedade patriarcal, baseada na diferença entre os sexos, na necessidade de sobrevivência, na divisão social do trabalho, na violência, no vigor físico, etc, tinham ou não razões de ser isso é uma outra questão. No momento atual, o  importante,  é que o combate aos esteriótipos do passado não sirvam de pretexto, de meio e de  motivo  para se criar e estimular novos esteriótipos, conforme denuncia Páglia, sobre o movimento feminista.

E por incrível que pareça, a ¨neura¨ das feministas pela competição e pelo poder (Páglia) parece ir ao encontro da teoria freudiana, reafirmando o referido sentimento, por vias transversas.

No final das contas, me pergunto se, por ironia do destino, precisou vir o movimento de libertação da mulher e não o seu jugo, pelo sexo masculino, para revelar os seus sentimentos mais profundos e, por fim, reafirmar a teoria freudiana?

Percebemos que esse estímulo à concorrência cria também um novo problema por que, queira ou não, em qualquer relação heterosexual a complementação tem que existir por que os órgãos sexuais femininos e masculinos não podem ser simplesmente descartados. Essa concorrência vai afastar no plano mesmo que ideológico a penetração, fundamental na relação sexual, plenamente visível no ato da procriação, e não totalmente eliminada no contexto da satisfação.

A penetração, por ser, em si mesmo, um ato agressivo, pois ela não se faz presente com passividade, não quero dizer violento, encarada nesse contexto de concorrência, poderá  despertar uma rejeição, um sentimento de invasão, de ser possuída, de submissão e inferioridade. Convenhamos que para uma feminista competitiva e fanática é demais.  

Daí constatarmos um comportamento muito comum na mulher atual, que indiretamente foi ressaltado por Camille Paglia, qual seja o domínio na relação com o sexo masculino, uma necessidade de castração psicológica do sexo oposto, mesmo que símbólica. Entretanto, a castração simbólica não é real e por isso não resolve a questão.

Nas palavras da professora ¨Essa tensa e delicada dança entre o homem e a mulher não pode ser atribuída de maneira simplista à misoginia ou ao machismo¨(feminismo.org.com).

Mas esta castração tem um preço, que se manifesta na insatisfação. Por que, também, mesmo que simbolicamente, para que serve um homem castrado? E no final a culpa será sempre do homem por que permitiu ser castrado. Nisso parece que elas têm razão.

Infelizmente, as feministas não se aperceberam que no plano social existem questões muito importantes que dizem respeito a ambos os sexos. Não restam dúvidas que a igualdade salarial no desempenho das mesmas tarefas ou assemelhadas é uma reinvidicação justa.

Se é verdade que as certas diferenças existem e, por direito e justiça devem ser eliminadas, teríamos que analisar, pois esta me parece uma questão primordial, até que ponto a entrada das mulheres no mercado de trabalho trouxe uma depreciação na remuneração dos homens e ao mesmo tempo de ambos. Principalmente, nos profissionais de nível superior, no setor da classe média, onde inexiste a organização sindical.

Essa ¨neura¨ de equiparação relega este aspecto e as injustiças sociais prosperam. Na verdade, para que serve a equiparação se os dois ganham mal? Antes de serem justas pelas igualdades, têm que ser pela adequabilidade às situações reais da vida, que permitam uma vida dígna. Neccessárias ao lazer e a educação dos filhos. Foi-se o tempo em que um simples profissional qualificado podia sozinho sustentar sua família.

Trazer a concorrência para dentro de casa é no mínimo estupidez. Neuróticos a parte, ninguém se salva com uma concorrência dentro do lar. Bastam os atropelos da vida. O lar é o local de descanso, de reposuso, de sossêgo, de recuperação das energias, para enfrentar as batalhas do cotidiano, não de escaramuças. 

Para terminar este texto não poderia deixar de citar uma frase de Freud que ainda é motivo de muita controvérsia e que também se encaixa nesse contexto. Numa carta a Marie Bonaparte ele afirma que, embora tenha estudado a mente humana por décadas, foi incapaz de entender o que quer uma mulher. ¨Nunca fui capaz de responder à grande pergunta: o que quer uma mulher¨.

Esta ambiguidade, sim, é um inconveniente e empecilho no relacionamento com o sexo masculino. Afinal quem suportaria uma mulher extremamente objetiva, ao mesmo tempo contraditória, pão pão, queijo queijo, se é que existe? Ou seria um arremêdo? Nem mesmo elas suportam. Então, apesar dos pesares, ¨vive la différence¨.